Histórico


A criação da Cátedra Agostinho da Silva na Universidade de Brasília, em 2006, além de ser um importante acontecimento das comemorações do centenário do seu nascimento, foi também um momento em que esta Universidade reconhecia e dava o devido valor ao legado que o Professor Agostinho da Silva, um dos seus fundadores, tinha deixado na sua memória e nos seus alicerces. A sua presença nesta Universidade virou lenda. Mas mais do que cultivar esta lenda, a Cátedra terá por objetivo dar a continuidade a sua presença: presença de suas idéias, do seu exemplo de pensar e de fazer a Universidade.
Agostinho da Silva atribuia a Universidade de Brasília o papel pioneiro e renovador diante do quadro da crise em que se encontrava a Universidade no Brasil e no Mundo. No seu depoimento à Comissão Parlamentar na Câmara dos Deputados em 1968, ao refletir sobre a universidade, seu papel e a sua situação atual, ele defende um modelo da univeridade, que ancorado nos valores que a originaram, enfrentará os desafios dos tempos presentes e futuros.
“Podemos dizer que a Universidade atual que vem da Universidade medieval é uma Universidade que se alicerça sobre a idéia de fraternidade, sobre uma idéia, digamos, de caridade, sobre uma idéia de esforço comum para atingir uma verdade que não é já uma verdade puramente intelectual, mas uma verdade também de sentimentos, uma verdade de unidade entre os homens” (p. 34)
Os princípios, as bases devem ser, portanto, universais, mas a estrutura deve corresponder ao particular histórico, econômico e cultural do Brasil, o que ainda não acontece:
“O grande drama da Universidade brasileira hoje é que estamos tentando implantar no Brasil estruturas que são efectivamente de outras economias (...) de outros estágios educacionais e que de maneira nenhuma podemos adaptar ao Brasil” (p. 38).
Agostinha da Silva não tem dúvidas quanto a capacidade criadora do Brasil:
“Cada vez creio mais – diz ele – que o Brasil é de todas as nações aquela que mostra no mundo, neste momento, mais capacidade criadora, mais capacidade humana, mais ritmo de convivência e mais possibilidade de convivência” (p. 54).
Por isso, a Universidade brasileira deve reunir o melhor da tradição universal e ser a altura das capacidades e necessidades do país e do seu povo. Por isso a sua crítica da situação atual, daquele tempo – mas que em muitos pontos não perdeu a atualidade – era tão aguda. Diante da Comissão Parlamentar naquele ano de 1968 Agostinho da Silva fala da falta da liberdade e da autonomia, do “regime de medo”, que faz com que a Universidade não pode cumprir a sua missão criadora, nem abrir-se como deveria para o mundo. Fala da necessidade de ampliação de acesso a Universidade (“Não podemos ter uma Universidade boa quando o acesso a essa Universidade só é facultado a classes que dispões do dinheiro” p. 43) e da necessidade de “descobrir os estudantes” e chega a dizer que “A Universidade rasileira para ser não precisa de ter nenhuma filosofia, não precisa se basear em nenhuma teoria, precisa se lançar à descoberta do estudante” (p. 83). Porque por enquanto a instituição da Universidade não é capaz de “responder mais aos anseios da juventude que quer encontrar (...) um estímulo de criação (...), alguma coisa que a encaminhe para o mundo e não encaminhe apenas para a sua profissão” (p. 36).
A missão específica que Agostinho da Silva atribui a Universidade de Brasília era a de “integrar a cultura nacional”, a de preparar os quadros para o ensino superior no país aliada a missão de assessoramento do governo e a de produzir o pensamento e fazer valer a sua opinhão “sobre os problemas com que o Brasil se defronta” (p. 41). Ao pensar a Universidade nova, em geral, e esta de Brasília em particular, Agostinho da Silva enfatizava a relação de responsabilidade e de dependência recíprocas entre a Universidade e o Brasil: “nenhuma maneira nós podemos ter a esperança de ter uma Universidade nova se não tivermos um Brasil novo” (p. 71).

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